quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Um sentido de compromisso em detrimento da responsabilidade aparente.

O conceito de responsabilidade, aparentemente, está mais proximamente relacionado a uma idéia vaga, e imprecisa - e impositiva - a respeito de como um indivíduo deve estabelecer sua relação com o mundo, do que necessariamente um entendimento a respeito do caráter do compromisso. Tal idéia de responsabilidade, dessa maneira, muitas vezes repercutida, é em verdade redutora da compreensão do homem à uma pequena peça de uma grande engrenagem ao qual constitui; e ignora, e mesmo nega, as infinitas potencialidades humanas, e suas possibilidades de realização - sua condição de existência, e do próprio planeta que habita.

De tal modo, encontra essa afirmação, a de que apenas uma fase na vida do indivíduo seja constituída de responsabilidades, certa pacificidade de aceitação, por se constituir num repertório comum; e assim, a partir da repetição, a tendência à solidificação como uma verdade. Todavia, a crença da existência de uma idade em cuja automaticamente se adquire essa suposta responsabilidade, não leva em consideração uma percepção que se associe intimamente à preocupação com a condição do planeta, a uma reflexão sobre a construção da sociedade, ou sobre as relações entre as pessoas; e ainda, parte do entendimento de que todo indivíduo seja constituído exatamente da mesma materialidade, e que a evolução individual de cada pessoa possa se dar em fases distintas, e não numa continuidade do aprimoramento das capacidades humanas, físicas, intelectuais, que se iniciam, ou se reiniciam, no nascimento; e que jamais finaliza.
Apresentando-se mais como um intrigante resultado de um processo cultural que perpetua instrumentos de repressão aos impulsos de vida, às energias sexuais, aos traços que se estabelecem nas esferas criativas - situando-os aos aspectos de não responsabilidade. Relacionando a idéia de amadurecimento a um desenvolvimento da capacidade individual de repreender suas potencialidades criadoras, ou seja, de se tornar um possível, ou até, provável, angustiado neurótico, potencialmente depressivo, e um potencial repressor.

Entretanto, que não seja exata e absoluta nenhuma regra no que diz respeito ao realizar da existência, aos indivíduos é possível toda forma de inserção nos diversos universos de possibilidades. É importante, todavia se ater, e entender, o processo do compromisso, sua necessidade, importância e os reflexos que se estabelecem a partir deste. Do compromisso com o outro, com a natureza, com nós mesmos; um dos caminhos que se fazem à busca da resposta da vida. Ao homem, só não é possível esquivar-se da própria liberdade, do íntimo da própria consciência.

Nada mais libertador que o conhecimento. Se a cada descoberta lhe apresente o desespero, e o insuportável, o passo seguinte é desvendar a trilha da superação, e assim, possível de tornar-se mais robusto, mais forte, mais sensível.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fora Arruda Paulo Otávio Roriz e companhia

Que ao menos sirva como registro dos acontecimentos que nos cercam neste momento, o desejo de reiteração da indiginação frente aos fatos recentes conhecidos.
Não somente ao ato de corrupção - e é bom sentir que não devemos mais aceitar acomodadamente estes fenômenos surpreendentemente sórdidos, submetidos ao terrível argumento do "isso acontece o tempo todo" - como também aos atos de brutalidade ao qual o sistema repressor, polícia, exército, em todos os momentos oportunos apresentam sua tendência ao massacramento de estudantes, professores, e atos de injustiças, cercados que estão, de cacetetes, capacetes, e da própria lei; dispostos a prender a qualquer momento ao custo do desacato da autoridade, em detrimento dos atos de abuso de poder.
Que a imprensa tenha cada vez mais direitos - não privilégios - e que a sociedade se desencante cada vez mais pelas notícias vãs, devido ao excesso em que se apresentam, e se sintam cada vez mais atores do seu tempo e de sua história, pois é isso que somos o tempo todo, nos mais sutis instantes de nossa existência, em todas as oportunidades que temos de decisão.
Que daqui a alguns posts se apresente um, tanto quanto heróico com a derrubada do Arruda (atual governador de Brasília0 Paulo Otávio (seu vice, marca reconhecida no setor de construtoras) e Roriz (ex governador).
Que essa gangue saia acuada, não das urnas, porque é ímpossível conter o controle populista à estratégia de assistência social eleitoreira; mas na própria linha de batalha dos cursos de possibilidades democrática; e da possibilidade, se não de justiça, do cumprimento da lei.

Fora Arruda, fora P.O fora Roriz - fora gangue do DF, verdadeiros marginais, inimigos da sociedade.

Um outro futuro é possível.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Semestre, um período significativo

São períodos significativos todos aqueles que nos modificam, em intensidades diversas, de maneiras distintas. Definitivamente o semestre, como medida de unidade da totalidade do processo de graduação na vida universitária, é um período bem significativo. Quer queira quer não a partir da nossa relação com a métrica realizatória da nossa evolução intelectual na área específica do saber ao qual, inocentemente, ou não, engajamos nossos esforços e empenhamos nossa batalha, nos sentimos mais ou menos próximos, ou distantes, da normalidade - institucionalizada ao percurso; das expectativas que geramos quando fomos inseridos nesse processo, que as vezes parece uma rota indistinta de colisão. (...) Tontos, felizes, atordoados, vamos nos anestesiando, ou despertando, e construindo nossas experiências nesse universo que nos afasta de quem éramos e nos aproxima do que vimos a nos tornar, sendo, de certa forma, sempre os mesmos, e nunca aqueles.
Nesses períodos acabamos descobrindo limites que desconhecíamos, e vamos desenvolvendo habilidades de lidar com esses limites e superá-los. Às vezes sentindo a mudança quando percebemos que redimensionamos os períodos anteriores, e como, por outras vezes, podíamos ter feito melhor se fosse agora. Ao agora cabe improvisar da melhor forma possível, pra daqui a alguns anos perceber que poderia ter sido diferente, porque enfim dentro as infinitas possibilidades sempre existirão outras. Perceber o peso do sistema e das instituições, a voz muda que fica entalada no peito, ficar exposto à mediocridade alheia, daquele que tem dificuldade de lhe entender e talvez nem o faça questão, porque o aprendizado a muito tempo se tornou um campo de batalha. E também, os amigos e companheiros na jornada. À quem acredita na oportunidade do futuro, que fiquem reservados os espaços de discussão.
Entender por fim, que não há nada maior na vida do que se emocionar. Um poder que devemos guardar, resguardar, desenvolver. Porque fora à vida que existe dentro de cada um, ou não existe nada, ou existe pouca coisa, sendo que, e a vida dentro de cada, não se faz alheia à vida a qual se realiza a própria pessoa - em outras palavras: existem dois tipos de felicidade, daquele que se sente feliz sentado em uma confortável poltrona em meio à um amontoado de miséria; e do outro que sente a felicidade no processo de mudança, longe da confortável poltrona, ao lado do desejo de mudar. Não é hipócrita, o que se reconhece humano, e suas limitações, e ainda, sempre, procura superá-las.
Se o ser - humano se realiza em sociedade, do mesmo modo como deve cuidar da árvore frondosa que lhe dá sombra, do planeta que lhe possibilita os frutos, deve prezar em refletir tal sociedade, que contêm as possibilidades pra a realização da sua vida. Final de semestre; final de curso; impossível negligenciar essa reflexão. – Terminar o semestre é sempre uma sensação terrivelmente maravilhosa, que termine bem. Quanto maior a batalha, maior as chances de aprender a agir, e reagir, à face da adversidade, de nos tornarmos fortes... que a magia da felicidade nos torne mais fortes também, e nos ensine a amar mais.

“Won´t you help to sing? These songs of freedom” O Rei. B. Marley.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Globalitarismo – Globalização e visão Paranóica do mundo.

Em Por uma outra Globalização (2001), Santos ressalta o processo de construção da idéia do mundo globalizado, como fábula. Tal processo se dá primordialmente através da repetição de um certo número de fantasias tidas - e assim, impostas - como realidade, e que acabam por se constituir como base aparentemente sólida de interpretação da própria realidade. Todavia, o que se observa é que o processo atual de globalização, através de suas linhas principais de imposição de forças homogeneizantes – o que Santos (2001) caracteriza como máquina ideológica - desconsidera as características territoriais locais, e impõe fragmentações ao espaço, assim como necessidades virtuais aos indivíduos; em detrimento da promoção da realização da cidadania plena e universal. Camufla as contradições existentes, através de uma metanarrativa que busca promover uma espécie, ou tipo, de “darwinismo social” baseado em condições de consumo, ou, em potencialidades de materialização do consumo; De tal maneira, nos revela, Santos:
“(...) Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca da uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho da cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso o culto ao consumo é estimulado.
Fala-se igualmente, com insistência, na morte do Estado, mas o que estamos vendo é seu fortalecimento para atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as populações cuja vida se torna mais difícil(...)”. (Santos, 2001, p. 19)
O processo descrito acima, que tem sua gênese no modo de produção atual, se insere nas diversas instâncias da sociedade - no espaço, e também nas instâncias política-institucional e cultural-ideológica (Santos, 2008), e, de tal forma como as diversas instâncias contêm e estão contidas umas nas outras, a lógica do capital, ou a ideologia da reprodução do capital permeia todas as esferas da realização da vida. As linhas de ações que buscam promover os meios de reprodução do capital se inserem nos processos democráticos, deturpando a função representativa da democracia; corrompem o sentido identitário da produção cultural, transfigurando-a numa indústria de massa; estimulam a construção de uma mentalidade individualista e competitiva entre os indivíduos, cujas necessidades têm de se realizar no menor período de tempo possível. Perde-se a noção da perspectiva a longo prazo, e estimula-se a realização unicamente do agora, da felicidade instantânea, e efêmera, que se pode obter através da materialização do consumo - a fábula da globalização: “ O mundo ao alcance das mãos”.
Freud (1913), destaca a relação entre os sintomas neuróticos, da projeção da angústia interna a objetos externos, e fenômenos culturais – que pode se manifestar, também, por meio uma obra de arte, por um processo de sublimação, de uma doutrina filosófica, ou da religião. Assim, numa perspectiva didática de esclarecer a relação de tais projeções aos sintomas neuróticos, afirma que é possível “estabelecer que uma neurose obsessiva é a caricatura de uma religião e que um delírio paranóico é a caricatura de uma doutrina filosófica” (Freud, 1913, p.73 conforme Bell 2005, p.21). A partir de então, e tomando a força de expressão apresentada por Santos: “(...) o culto ao consumo é estimulado”(Santos, 2001, p.19), é possível observar que o consumo se coloca, no atual modelo de globalização, possível de se realizar nos dois níveis existentes, tanto como religião, tanto quanto doutrina filosófica. Como religião porque se impõe a necessidade do dinheiro ausente do um sentido teleológico, tomando-se por fim a necessidade do “dinheiro em estado puro”, do culto à realização da satisfação e obtenção do prazer, a partir do próprio acúmulo do dinheiro, e também como capital, e dessa busca como condição da felicidade e como possibilidade de realização plena da existência; como doutrina filosófica porque estabelece uma lógica de realização da vida, atribuindo o sentido da existência à condição de generalização da possibilidade de realização do consumo; deixa-se de consumir para viver, passa-se a viver para consumir.
De tal maneira que o mito de realização da existência, promovida e estimulada pela necessidade de criação constante de demanda - que se dá principalmente através da propaganda e das estratégias de marketing - resulta ao indivíduo na geração interna de ansiedade, e também externa, como valor agregado à mercadoria, uma ansiedade virtual instalada a partir da necessidade de se adquirir o novo: novas modas, tendências, tecnologias etc. Intensifica-se essa atmosfera de ansiedade, resultada e contida na tecnosfera (Santos, 2001), à medida que o indivíduo não pode, ou não consegue adquirir o que se afirma possível a todos, e quando acredita que reside no objeto de consumo a realização da felicidade, ou dos caminhos que possibilitem a felicidade; e mais, à medida que este indivíduo não representa um único sujeito, mas a totalidade de sujeitos que igualmente estão subjugados ao mesmo processo, submetidos à mesma parcela da marginalização, entretanto, em níveis desiguais. Bell (2005) argumenta que a gênese da paranóia reside na necessidade de lidar com aquilo que não toleramos. Ora, o não acesso ao universo de existência, de felicidade, de consumo, e prazer, que reside na fábula da globalização, no mito criado pela fábula, se impõe como idéia intolerável ao indivíduo, e a gênese do processo paranóico se instala no homem coletivo, e assim na totalidade da coletividade.
A paranóia se traduz na projeção de elementos internos não toleráveis para o mundo externo; encontra origem na ansiedade, que, também, resulta da percepção da incapacidade de ser completamente autônomo, completamente independente. O modelo atual de globalização, ao contrário do que afirma como discurso, impõe uma diminuição da autonomia ao indivíduo, entendido coletivamente, à medida que lhe impõe novas necessidades, virtuais, para a realização do cotidiano, da existência. A máquina ideológica vai estar sempre reforçando a vantagem de se estar sempre consumindo a produção, porque a produção necessita ter um mercado que esteja absorvendo a produção; de tal maneira como peça fundamental na composição da completude do indivíduo, está associado sua capacidade de consumir, e sua autonomia relacionado ao potencial que pode materializar o processo de consumo, quanto maior esse potencial, mais autônomo é o indivíduo. Sua autonomia não é mais medida em função da sua capacidade orgânica, humana de resolver os conflitos que lhe surgem; mas, artificialmente, e ainda a sensação que todas as suas demandas internas podem ser atendidas à medida que é capaz de mobilizar maiores quantidades de capital, em função do que o seu capital pode oferecer, em detrimento do próprio sentido humano de autonomia.
A diminuição da autonomia e independência do indivíduo para a realização da vida em função da possibilidade de desenvolver suas capacidades, é transferida aos objetos dispostos pelo mercado, em cada vez mais variedade, e quantidade. Não é que esse processo em si seja maléfico, mas a limitação da vida em função de mercadoria. Em alguns momentos essa lógica é reforçada socialmente, isso porque a ideologia do mercado passa a permear as relações inter-pessoais. O indivíduo passa a procurar nos diversos membros da sociedade a confirmação da sua compreensão e ratificação das suas escolhas, seja na leitura do comportamento dos outros indivíduos, ou mesmo, no respaldo de suas observações (ARONSON, WILSON, & AKERT, 2002). Assim, através da percepção de algum reforço positivo - um elogio, um gesto de aprovação, observação de um comportamento análogo - o indivíduo pode apropriar à sua identidade o objeto de consumo, atribuindo à sua autonomia um valor superlativo em função da incorporação da artificialidade, diminuindo sua ansiedade. Entretanto a percepção da artificialidade, da exterioridade, e não organicidade do objeto em relação a identidade do sujeito, a compreensão de que a expectativa foi construída em cima de uma fábula, e de que o objeto não corresponde exatamente ao propósito esperado, divulgado pela propaganda, promove uma ruptura entre o Ego e o mundo externo, ao remendo sobre o local dessa ruptura, é onde para Freud, se origina o delírio. Como neste trabalho o indivíduo é tomado na sua acepção coletiva, ou seja, a partir da sociedade e na sociedade, se depreende que esse delírio se revela na totalidade da própria sociedade, o que justifica a afirmação de Santos (2001) a respeito do culto e do fetichismo ao consumo; pois que um modo de diminuir a frustração - ao invés de lidar com o mundo real, concreto, se perceber vítima das suas contradições - é acreditar que o propósito da fantasia agregada ao produto poderá ser encontrada no próximo, enquanto não for superado por outro.
Bell, (2005) aponta nesse sentido, a própria realidade como fator possível de origem da paranóia,
“É uma peculiaridade do universo paranóico – um mundo intimidador, cheio de figuras aterradoras, que impede qualquer desenvolvimento – ser, para certas pessoas, preferível a algo que parece bem pior, a realidade. Todos sentimos dificuldade com determinados aspectos da realidade, mas para alguns isso implica a falta de controle da realidade em geral, que então é substituída por um mundo de delírio” (Bell, 2005, p.61)
Desse modo, o modelo de produção atual, e de globalização, impõe como lógica de realização da psique, a promoção de uma paranóia coletiva, neurose obsessiva e delírio paranóico coletivo, à medida que atribui significados de indispensabilidade à artificialidades, que por sua vez nem sempre podem ser adquiridos por um indivíduo, e mesmo quando podem não satisfazem por completo, e somente por um breve período, o propósito de satisfação, ou de condição de realização de liberdade, prazer, ou felicidade.
Para Marx, estes modelos ilusórios de interpretação da realidade, configuram-se elementos intrínsecos ao modelo de produção capitalista. Marx (conforme Bell, 2005, p.22) considerava a religião uma espécie de delírio coletivo, que tinha um fim importante dada a condição em que o homem se encontrava, porquanto que aos homens que para abandonar a ilusão a respeito da própria condição era necessário desistir de uma condição que exige ilusões. Assim, o modelo de produção atual, ao invés de promover ao homem a capacidade crítica de refletir sobre si e o mundo, ao contrário, tende a criar ilusões a respeito deste, a fim de que o mito da construção da felicidade e realização da vida continue atrelado ao processo de consumo. A própria condição de realização através do consumo é a maior fábula imposta pela repetição, arbitrariamente aceita pelos indivíduos, e reflexo da necessidade de criação de demanda aos processos produtivos cada vez mais ágeis.
Os processos de projeção do mundo interno ao mundo externo, e de introjeção do mundo externo ao mundo interno são naturais do processo de entendimento do mundo, e constituem nossa relação mais fundamental com o mundo ao redor, o que Klein (segundo Bell, 2005) entende como fase de “posição esquizoparanóide”. Entretanto, no processo paranóico, na tentativa de diminuir a ansiedade, e extinguir a angustia, quando projetamos uma ansiedade a uma figura externa, em seguida quando entramos em contato com ela, a introjetamos novamente; e à esta nova carga simbólica se estabelece a necessidade de projetá-la novamente, no que se estabelece um ciclo neurótico, onde essa carga tende a se intensificar cada vez mais.
O homem se realiza no espaço, é aí que encontra os elementos os quais se apropria, atribui valor e agrega à sua compreensão do mundo, para, a partir de então, realizar sua ação sobre este, o que coletivamente, através dos diferentes modos de organização, se constitui na produção e próprio espaço. Se a lógica encontrada no espaço, a partir da atual globalização, resultante do modo de produção atual, impõe um processo de neurose, na psique, esse processo estabelece também uma lógica de reprodução e intensificação do próprio processo neurótico; de onde se pode depreender que se torna cada vez mais dificultoso ao homem a compreensão da sua própria realidade, que se percebe num processo de limitação da sua própria autonomia; todos estes processos que têm sua gênese no modo de produção no espaço, que impõe essa lógica a todo indivíduo que compartilha o espaço e que a partir da sua ação, tomada coletivamente, produz espaço. Pode-se inferir, então, que a origem do movimento de reprodução das principais linhas de força do espaço, da submissão do homem à lógicas não-humanas - que inclusive impõe degradação aos processos naturais, ecológicos e ambientais, fragmentações ao espaço – em função da lógica do capital, está em parte, à incapacidade de refletir sobre o mundo concreto, devido aos processos de delírio paranóico, e paranóicos em geral, impostos à psique; mas também a outros processos de defesa do Ego.
A fragmentação do espaço se institui a partir dos processos existentes no espaço orientados pela lógica de caráter homogeneizadora e heterogeneizante do capital, na impossibilidade de realização de um indivíduo como cidadão, e no próprio indivíduo tomado em coletividade. A imposição neurótica aos indivíduos como resultado do modo de produção significa uma inversão da função e da forma da produção ao homem, do sentido da produção do espaço. A compreensão do mundo como perversidade é atingível por qualquer pessoa, contudo, como idéia intolerável, é indesejadamente projetada novamente no espaço, e dessa forma, são os sentimentos de solidariedade que são prejudicados, desagregados, fragmentados; vão se transformando em sentimentos de repulsa e distanciamento aos grupos mais desfavorecidos. Segundo Bell (2001)
“(...)os desamparados tornam-se, na nossa mente, a causa dos problemas deles mesmos, e as dificuldades que enfrentam, uma evidência de sua inferioridade moral. Quanto maior a degradação do grupo, maior a probabilidade de ele ser considerado não muito humano e, portanto, indigno da preocupação habitual com as pessoas”. (Bell, 2005, p. 74)
A diferenciação do eu, em termos de acessibilidade às infra-estruturas e bens de consumo, em relação ao outro, que não pode possuir, se estabelece numa relação de reafirmação desse distanciamento do grupo que “tem problemas”. As fragmentações no espaço são sentidas nas relações pessoais, e inter-pessoais; a compreensão sobre o homem se desumaniza, de modo que o homem que se realiza em coletividade se sente menos em coletividade, e não se percebe como um ente coletivo, mas como um indivíduo que se prepara para competir contra os demais. Entretanto, sua realidade concreta é proposta como resultado da realização coletiva, todas as instituições que observa, tudo que lhe cerca é resultado da ação coletiva coordenada. Novamente se instala uma ruptura entre o Ego e o mundo externo, de onde se originam os processos de ansiedade, e de delírio. O indivíduo ao mesmo tempo que se apresenta ao outro de forma menos ou não cooperativa porque o desconhece como um igual, também se perceber mais vulnerável, menos autônomo, mais ansioso, de onde se intensificam os processos neuróticos. Em contrapartida, o indivíduo que não consegue realizar o consumo, que imagina, ou que percebe, o qual, de modo geral, a sociedade realiza - ou o grupo onde se encontra inserido realiza - se sente perseguido, incapaz de pertencer ao grupo. O resultado desse conjunto de fragmentação é a violência.
Mike Davis (2001), defende a tese de que o aumento do uso de recursos de segurança na cidade ao contrário de possibilitar uma sensação de segurança maior, produz o efeito contrário; o que considera de grau crescente de paranóia urbana. Ao geógrafo parece óbvio essa constatação tendo em vista que o aumento de recursos de segurança reflete o grau de violência urbana. Essa constatação vem em encontro ao pensamento de que a forma concreta de equacionar a violência é através da reflexão do espaço, da análise das suas contradições, e da promoção de uma globalização mais humana, tendo em vista que o resultado imediato das fragmentações impostas pelo espaço é a violência, e como o capital se realiza de forma mais ampla na cidade (Carlos, 2007), é no espaço urbano que se institui com mais intensidade os resultados violentos, fruto dos processos de desumanização da vida, da lógica que não tem em seu fim a realização do individuo como cidadão, e da não valorização, ou desvalorização, do humano. Assim, que a racionalidade dominante acaba impondo a lógica do distanciamento entre as pessoas, entre os grupos, intensificando a fragmentação, impossibilitando a discussão política das soluções dos problemas.
No que se refere a relação entre a lógica do capital e a instância política-institucional, que se repercute no espaço, Bell (2005) ainda revela uma relação entre as posturas políticas, e o discurso orientado pela lógica da produção capitalista, na imposição do pensamento neurótico em favor do capital, citando como exemplo, “a notória habilidade de Margareth Thatcher em solapar o acordo de bem-estar social”. Assim, “o direito dos cidadãos de ter ensino e habitação como dever do Estado foi substituído por uma ideologia de propaganda que insinuava que quem procurava ajuda era na verdade um “parasita preguiçoso”, por exigir auxílio” do Estado ao invés “de bater perna e ganhar a vida sozinho como faria qualquer pessoa digna” (Bell, 2005, p.69). De forma que o indivíduo que realmente precisasse da política assistencial, ficasse inibido de ir recebê-la, como realmente aconteceu; pois que uma forma de aceitar essas política seria um modo de reconhecer a dolorosa situação em que vivia.
Desse modo, em função de se diminuir gastos com as necessidades da população, o Estado oferece por um lado a política assistencial, e por outro lado, promove um sistema ideológico que desestimula a população a utilizá-lo. A política assistencial deixa de ser um dever do Estado, e passa a ser uma vergonha ao indivíduo que tem o direito a recebê-la. Enquanto isso o Estado é capaz de subsidiar em milhões de dólares o grande produtor, através de inúmeros incentivos, promovendo uma lógica que continua a gerar grupos marginalizados, indivíduos, a quem o Estado nega o auxílio efetivo. De tal modo que o indivíduo só passa a ter valor, então, enquanto produtor, ou reprodutor do sistema, ou seja, na produção, ou enquanto consumidor.
Bell ainda lembra que muitos Estados, “com o fim de satisfazer a interesses menos manifestos, têm tido enorme sucesso em inculcar em nós essa visão paranóica do mundo” (Bell, 2005, p.73), a partir do discurso da justa afirmação dos “nossos valores” - princípios humanos - em detrimento dos “planos monstruosos” deles. Tal afirmação que converge com o entendimento de Santos quanto produção de um discurso que serve à construção de mundo como fábula, repetido incessantemente na tentativa de se impor como verdade, e que tem como sentido teleológico a defesa do grande capital; o que, a partir da sua análise, denuncia o caráter despótico da informação no modelo atual de globalização, que é produzida, e repetida, em função de objetivos atrelados ao capital, como aponta Santos (2001),
“O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto é mais grave porque, nas condições atuais da vida econômica e social, a informação constitui um dado essencial e imprescindível. Mas na medida em que chega às pessoas, como também às empresas e instituições hegemonizadas, é, já, o resultado de uma manipulação, tal informação se apresenta como ideologia” (Santos, 2001, p.39)
Assim o modelo cria em contrapartida à fábula da globalização, um universo de perversidade que impulsiona o indivíduo para o universo paranóico. A atenção do indivíduo é direcionada à materialidade dos objetos e das formas; restando a preocupação com os modos mais profundos das relações interpessoais, ou com os processos internos aos sujeitos, a cada indivíduo, e mesmo à necessidade da compreensão dos processos que cercam o homem, em plano secundário. Retira-se em parte, ou limita-se, a autonomia do homem de refletir sobre si mesmo e sobre o mundo, e constrói-se, a partir da fábula e do mito da globalização, da existência de uma “aldeia global”, a imagem do Édem, de um paraíso possível a partir da técnica, e da tecnologia; incorporado à idéia e à possibilidade do consumo.
O resultado da concretização objetiva do desejo, um processo natural da realização da vida e de movimentação do homem em direção à ação, mas que passa a ter um caráter artificial, em função da satisfação de necessidades virtuais, se reverte costumeiramente como fim frustrante. Assim que, sendo essa frustração um dado concreto da realidade, somado à impossibilidade de racionalização dos processos que o cercam em geral, da própria realidade que o cerca, e das contradições desta realidade; resta ao indivíduo a necessidade de recorrer ao discurso hegemônico, a fim de encontrar alguma resposta à situação no qual se percebe inserido, e no discurso hegemônico, ao invés das respostas esperadas, provavelmente vai perceber os estímulos que promoveram os processos neuróticos da psique. De tal modo que o que se realiza é a intensificação do processo neurótico, e o reforço da necessidade do consumo, como forma de tentar diminuir a ansiedade, e que tem como resultado a intensificação desse processo. Ao grupo que se encontra impedido de acesso à realização do consumo, a perversidade é ainda maior e o pensamento neurótico, imposto pela fragmentação espacial, se coaduna no comportamento agressivo, na violência instalada nas localidades, da violência incidida no espaço.
De tal maneira que o atual modelo de produção possibilita não somente a consolidação do pensamento neurótico, mas proporciona sua intensificação como modelo de realização da vida, principalmente através do incentivo è individualidade e á competição, conforme Santos (2001). De modo que o indivíduo ao tentar se compreender no mundo, e na tentativa de entender o próprio mundo procura no comportamento dos outros indivíduos as respostas para as melhores tomadas de decisão (ARONSON, WILSON, & AKERT, 2002); assim que encontra a partir da observação das reações egoístas das outras pessoas - que também se encontram sob a ansiedade imposta ao homem pelo modelo atual de produção, e que então, também se encontram no mesmo estado neurótico - ratificam a postura neurótica. Processo que também resulta da fragmentação das relações solidárias, em detrimento da ética da competitividade, e da concorrência.
Conquanto que a população que vive à margem dos processos sente em maior grau de intensidade a perversidade da fragmentação imposta ao espaço e do processo de desumanização, todos os grupos são prejudicados por essa lógica. E o resultado mais evidente é a violência. De tal modo que devido a impossibilidade, inclusive orgânica, de se obter tudo que existe, e tudo que é produzido, se instalam novos processos de intensificação de uma ansiedade artificial, virtualmente instalada, que se amplia, dentro deste modelo de produção, à medida que a inovação tecnológica é capaz de promover inovações – quando o ideal, ou o lógico, seria ter a inovação técnica a serviço do homem.
A violência, assim, é o efeito colateral direto da racionalidade hegemônica, mais facilmente percebido; mas também a violência psicológica, ou imposta à psique, que é a origem da violência infligida pelo indivíduo e entre os indivíduos, percebida no espaço. Sendo a cidade o local de realização do capital, onde esse encontra as maiores potencialidades para realizar seus ciclos, (Carlos, 2007) e a metrópole o local onde o capital completa as fases de produção, distribuição e consumo, é na cidade que a violência adquire caráter mais intenso. Uma forma de violência que vai se estabelecendo como uma lógica; tendo em vista que é resultado da lógica dominante, do capital. E, assim, à medida que a perversidade sistêmica do “globalitarsimo” (Santos, 2001) - permitidas e produzidas através da lógica do capital - vai se apresentado de forma mais intensa, a realidade se coloca como uma idéia cada vez menos tolerável, impulsionando os processos paranóicos, e assim, institucionalizando a violência. Mais se intensificam os mitos para a construção da globalização como fábula, esta, que, desse modo, se afasta cada vez mais da realidade, impulsionando os processos de delírio paranóico, processos estes os quais, agressivos à psique do indivíduo, se estabelecem como alicerce à perpetuação da lógica do capital.



Bibliografia

BELL, David. Paranóia – Conceitos da Psicanálise. v.6. Rio de Janeiro, Rj: Relume Dumará: Ediouro: Segmento Duetto, 2005.
FREUD, Sigmund. Mal-estar na civilizacao(o). Rio de janeiro, RJ: Imago, 1974.
JUNG, C. Sincronicidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
MORAES, A. C. Robert. Geografia – uma pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1995.
SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo, SP: Edusp, 2008.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1996.
SANTOS, Milton. Por Uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do Pensamento Único à consciência universal. 5°ed. – Rio de Janeiro, RJ: Record, 2001.



*Esse é um capítulo da minha dissertação de monografia.

axé!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Os retrocessos da guerra, nenhum ganho.

A humanidade, através da história abortou suas maiores possibilidades de avanço técnico, científico e filosófico. Por muito tempo se culpou a igreja e sua sede pela manutenção das verdades como grande protagonista de nossa amarga história. Mas não foi a única, à alguns grupos específicos pode ser atribuído o doloroso papel.
A presente argumentação lança de lado o já ultrapassado pensamento evolucionista do sec. XVIII. Assim, partindo do entendimento de que o homem de hoje e o de ontem, só se diferenciam em relação a possibilidade de uso da tecnologia e de acesso às informações é que se realiza a crítica.
Portanto, a igreja aparece como co-protagonista, junto à burguesia, associando aos valores cristãos, nem tanto essencialmente cristãos, o desejo e a fantasia da moeda – objeto de troca difundido na idade média, pelo qual pode-se trocar por qualquer coisa, material, ou imaterial, permitindo deixar de lado o próprio homem. Princípios e valores de solidariedade que poderiam levar à consciência da realização coletiva da vida, como engrenagem dos processos, dão lugar à fantasia do acúmulo do ouro.
E assim, os burgueses europeus assassinaram os povos astecas, incas e maias, povos indígenas, africanos, milhares e milhares de pessoas, em busca do tão sonhado ouro. E estancaram a grande oportunidade que tivemos de progredir ao somar as diversas culturas. O mais intrigante é que os povos que aqui existiam pareciam dispostos a integração.
Através da sede cruel de destruição, estes europeus cometeram os mais graves e tenebrosos atos contra a vida, encontrando no seio de novas ciências como a geografia, antropologia, a teologia as justificativas para seu terrível fim. Por isso a reafirmação do papel crítico que essas ciências tenham que realizar como uma forma de dívida histórica.
Assim, que muitos estudiosos ao voltarem os olhares para a história, fazem a análise inversa, de que através da guerra é que surgiram os grandes avanços científicos. Ledo engano, o surgimento da ciência e sua necessidade de descobrir o mundo, já que não podíamos mais confiar nas “historinhas” das igrejas, sempre se ocuparam no sentido do desenvolvimento. Mais uma vez as guerras fizeram unicamente limitar o potencial criativo das inovações para as estratégias bélicas, atrasar a divulgação das técnicas que julgavam interessantes ao combate.
Depois coube ao modelo capitalista, este que visa unicamente o lucro em detrimento de qualquer outra coisa, instalar a fantasia e a sensação de necessidade dos aparelhos técnicos, como se fossem inerentes ao próprio homem e destituídos do seu valor histórico.
Atribuir às guerras um valor de progresso é um equívoco, pois são na verdade um ato de aborto a um progresso verdadeiramente humano.
As guerras representam unicamente um retrocesso filosófico, democrático, um aborto ao processo democrático, espiritual, humano. A guerra é ato anti-progresso, anti-vida, a guerra é injustificável e absurdamente impensável ou aceitável.
O mundo não precisa de mais guerras, nunca as precisou.

Compilação - uma sinopse Geográfica - Espaço, Território, Lugar, Paisagem, Região

Como geógrafo, arrisco abaixo uma contribuição ao pensamento geográfico, uma compilação de alguns conceitos que julgo importantes ao entendimento da Geografia atual, primeiro resultado da minha pesquisa de monografia, que por enquanto não digo do que se trata pra não perder o mistério...

Porque de todas as ciências que existe, foi por ela que me apaixonei... Já nada podia fazer quando sua perspectiva espacial apontava nos processos elementos que acalmaram minha alma por responder grande parte das minha indagações - uma ode à Geografia.

....

Espaço – Reunir os elementos que caracterizam o Espaço Geográfico não é uma tarefa tão simples. De forma resumida, pra esse exercício de caracterização dos conceitos é válido ressaltar que o Espaço é um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. O espaço é constituído através das relações sociais, do trabalho, e assim, o espaço é social. Pode-se entender o Espaço como a Natureza modificada pelo homem através do tempo. O Espaço é condição, meio e produto – condição para realização das ações, o meio por onde se dão os processos e o produto desse resultado. O Espaço é o palco das ações humanas, de realização do homem, construído através do tempo. A medida que o homem produz, ele produz espaço. Este deve ser entendido em sua totalidade que se realizam sobre suas categorias do estudo do espaço que são, estrutura, processo, função e forma. Assim, segundo Milton Santos, “O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita pro processos do passado e do presente. O espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações que se manifestam através do processo e funções”. O espaço é, assim, “um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual”.

Estrutura, Processo, Função, Forma – O espaço, como afirmado acima, deve ser entendido na sua totalidade e dentro dessa perspectiva conforme Milton Santos (2002) ensina “O Ser é a sociedade total; o tempo são os processos, e a função e a forma são a existência”. De tal maneira que a Estrutura é o todo, as relações estabelecidas pela sociedade permitem sua estrutura, e estas relações são construídas através do tempo. O Processo é associado ao tempo, ou seja, o tempo é representado pela quantidade de processos realizadas em unidade de tempo. Ao se referir ao tempo não se deseja remeter apenas à divisão do dia em unidades, seja hora, segundo, ou minuto, mas um conceito que mais se relaciona aos processos, devido à técnica e então à velocidade e à acumulo de capital. Função e Forma estão relacionados a existência, diz Santos, porque são os elementos mais intimamente relacionados aos elementos que animam as categorias do Espaço, as Infra-Estrutura, Instituições, Meio-Ecológico, Firmas, Homem. Pois seriam estes elementos que impõe a funcionalidade ao espaço e também a forma, através da manipulação das técnicas em função das suas necessidades.

Infra-Estrutura, Instituições, Meio-Ecológico, Firmas, Homem – O espaço geográfico, objeto de estudo da Geografia, deve ser “considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e de outro, a vida que os preenche e os anima” (Santos1996, p.26). São estes, então, os elementos que dão vida às categorias do Espaço, que as animam. Através das necessidades criadas a partir destes elementos as técnicas existentes, a estrutura, e os processos, as funções e as formas no Espaço são redefinidos. São estes, a causa dos processos, do modo de produção, da estrutura, da forma e da função.

Tempo – A noção de tempo no estudo geográfico também não é algo simples de se definir porque envolve a relação de diversas variáveis. Em princípio pode-se tomar o tempo como medida fundamental na produção do espaço. Pois este não se realiza fora do tempo. Segundo Milton Santos (2000) o tempo “não é um conceito absoluto, mas relativo, ele não é resultado de uma percepção individual, trata-se de um tempo concreto”. E ainda “as relações entre os períodos históricos e a organização espacial também devem ser analisadas; elas nos revelarão uma sucessão de sistemas espaciais na qual o valor de cada lugar está sempre mudando no corre da história”. A noção do tempo, então é inseparável da idéia de sistema. Assim, o conceito de tempo no estudo geográfico é uma noção relativa aos processos, aos processos ao longo da história e à condição de realização dos processos.

Totalidade – Assim como o tempo, a totalidade se constitui numa das categorias fundamentais do espaço. Santos (2000) afirma, “a noção de totalidade é inseparável da noção de estrutura”, sendo a totalidade, totalidade social e as estruturas correspondentes, estruturas sociais. Enquanto a totalidade espacial deve ser tratada em termos de subestruturas, dos lugares e subespaços, ou mesmo as regiões. A importância de se ter em mente a totalidade é, de no estudo do espaço não se limitar simplesmente a seus fragmentos, porque daí se perderia a real compreensão do espaço. Contudo, como a noção da totalidade universalizante é impossível de se realizar, a escala viável da totalidade dá um lugar particular à estrutura interna, permitindo o não afastamento da realidade concreta, ou seja, a realidade dialética.

Território – O território é uma porção do espaço definido por uma relação de poder. O poder que mais comumente se pensa é no poder político, mas não necessariamente. Assim, o território é uma área delimitada, segundo Milton Santos “imutável em seus limites” por uma relação de poder “coercitivas”, que “determina os tipos de relação entre as classes sociais e as formas de ocupação do território”.

Lugar – O lugar é o resultado de ações multilaterais que se realizam em tempos desiguais sobre cada um e em todos os pontos da superfície terrestre. Assim que uma teoria que deseje explicar as localizações específicas deve levar em conta as ações do presente e do passado, locais e extralocais. O lugar assegura assim a unidade do contínuo e do descontínuo, o que a um tempo possibilita sua evolução e também lhe assegura uma estrutura concreta inconfundível. De modo que enquanto no espaço, num determinado ponto no tempo as variáveis são assincrônicas, no lugar, ou em cada lugar, as variáveis funcionam sincronicamente. Cada lugar é, a cada momento, um sistema espacial, seja qual for a “idade” dos seus elementos e a ordem que se instalarem. O lugar é assim, antes de tudo, uma porção da face da terra identificada por um nome. Um lugar pode ser representado por um grupo de “objetos materiais”.

Paisagem – Um ponto de partida para o entendimento da paisagem pode ser a compreensão de que “o espaço é igual à paisagem mais a vida nela existente; é a sociedade encaixada na paisagem, a vida que palpita conjuntamente com a materialidade” (Santos, 1996,p.73). Assim, a paisagem pode ser entendida como um conjunto de estruturas naturais e sociais de um determinado lugar no qual desenvolvem uma intensa interatividade, seja entre os elementos naturais, entre as relações humanas e desses com a natureza. Pode-se afirmar que paisagem é tudo aquilo que percebemos com nossos sentidos, mas principalmente, relaciona-se mais comumente com a idéia de “visualização da paisagem”. De tal forma que podem-se distinguir paisagem natural e paisagem humanizada, paisagem cultural, que pode ser dividida em paisagem rural e urbana; elementos naturais e elementos sociais da paisagem;

Região – O conceito de região ainda não é unânime para todos os geógrafos, mas pode-se recorrer à idéia de que essa noção se relaciona muito mais com as ligações inter-regionais do que com tipos de fronteira, ou separação. Segundo Hasbaert (2002) “Embora as diferenciações continuem a definir as regiões, estas diferenças, hoje, são muito melhor identificadas pela análise das inter-conexões do que das oposições”. Ressaltando a intensidade da diferenciação intra-regional, incluindo a constatação de descontinuidades internas. Para Milton Santos (2008) a região deixa de ser um produto da solidariedade orgânica localmente tecida, para tornar-se resultante da solidariedade organizacional. Para Cassiano C. Amorim, a identidade territorial “é elemento importante na definição das regionalizações”. Historicamente produzidas e politicamente recortadas, hoje entendemos que as regionalizações, os recortes regionais “são recortes onde a manifestação do poder político encontra espaços para territorializar-se, o que promove um ordenamento do território usado, à medida que estes recortes acabam por ser espaços de implantação de projetos baseados em políticas públicas”


Referencia Bibliográfica

AMORIM, Cassiano C. “Discutindo o conceito de região”. Revista on-line Estação Científica, v. 4, p. 1-19, 2007.

SANTOS, Milton. A Urbanizaçao Brasileira. São Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4.ed. 2.reimpr. – São Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo, SP: Nobel, 1985.

SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1996.

SANTOS, Milton. Por Uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.

SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do Pensamento Único à consciência universal. 5°ed. – Rio de Janeiro, RJ: Record, 2001.

sábado, 22 de agosto de 2009

Poder reclamar – Dever!

Reclamar é perceber que algo não está correto.
Quando nossa percepção detecta algo que não está de acordo com nossa lógica, buscamos racionalizar esse processo, um meio importante de fazê-lo é através da verbalização, o que se configura a reclamação. Uma criança ainda no estágio de desenvolvimento de entendimento dos processos que o rodeiam, costuma verbalizar o processo, o mais simples que seja, antes de executá-lo.
Durante a evolução de nossas vidas vamos percebendo os processos mais complexos, e que tem implicações diretas sobre nossas vidas, muitas vezes de forma catastrófica. Daí então, é forçoso que podemos, devemos, reclamar.

Existe, não se sabe desde quando, um discurso que muito se repete a respeito de nossa tão adorada, afamada, e difamada, brasilidade, é o seguinte: o brasileiro reclama demais! e nada faz, “só reclama.” Ou mais ainda, que o brasileiro reclama, mas faz o mesmo, ou enfim, reclama da corrupção, mas é ele mesmo, talvez por natureza, um grande corrupto. A repetição reiterada desse pensamento por vezes ganha adeptos, inteligentes mas inexperientes, ou despreparados pensadores, que acabam se deixando guiar por essa lógica. E assim se busca deslegitimar, e porque não coibir, o direito, dever, que temos, de reclamar. Temos que reclamar!Existem duas idéias distintas e mescladas de forma contraditória nesse pensamento. Uma, a respeito da mensuração da disposição do brasileiro de reclamar. De onde vem essa medida? Sem entrar no mérito da questão da generalização, porque estaria invadindo o universo da discussão sobre o sentimento da brasilidade.
A segunda idéia, que o brasileiro não faça nada, ou pior, faça o mesmo do que reclama. É uma construção lógica covarde, porque pretende impor a mesma medida de duas situações completamente diferentes. Uma, histórica – de um país dirigido por uma burguesia surgida ainda no período colonial, de uma corrupção perpetuada desde então através da história, impuníveis. E outra, de um povo, que sobrevive sem os meios mínimos necessários de realização cultural, de cidadania e de informação. E daí o desvio de milhões, do dinheiro público, que não é de ninguém, e assim é de todo mundo, fica no mesmo nível do papel jogado no chão, do desrespeito ao sinal vermelho. Como se dar um tiro na testa de alguém fosse o mesmo que não cortar-lhe as unhas.
Se correta a afirmação de que o brasileiro nunca pratica a ação, merecer ser ponto de discussão, absolutamente. Devemos agir! O grande problema que me aparece então, é que se ele precisa agir, é porque está descontente com algo, logo, ele precisa, primeiramente, reclamar. Se ele reclama muito então, que ótimo seria, esse fato poderia representar um grande potencial de observação crítica, que poderia levar a insatisfação real e plena, e então, à ação. E cá entre nós, o brasileiro é de ação, quem tem olhos pra ver, é que veja, a sutileza da ação se encontra na majestade dos meios, não acessíveis às mentes oblíquas. Mas mesmo que não fizesse, argumentar que àquele que não faça nada, não é lícito reclamar é recorrer aos métodos da ditadura, argumento de ditador, que se não age concretamente, então, é coerente que se cale por completo. Mas não posso nem reclamar? Pensei eu, brasileiro. Ainda mais, os caminhos pra ação não são tão simples de ser exercidos. Ainda na memória coletiva paira o medo instalado pelas ditaduras de desafiar objetivamente o Estado.
Comitês, passeatas, discursos á praça pública? Levante a mão e cante alguma canção do Geraldo Vandré aquele que ainda acredita que esse tipo de ação têm efetivo resultado, sequer. A mídia não veicula se não tem violência, e se tem, ela expõe a violência. Fazer algo não é uma ação tão simples, como eu quero, eu mudo. O sistema é robusto, pesado e insensível – às greves de fome, ao homem que pôs fogo ao próprio corpo frente ao Congresso Nacional, às suas crianças na rua e à tudo mais. E mesmo assim, o brasileiro vive a miséria real, que é fabricada nos enredos da corrupção, e que justamente não permite o acesso à informação, da importância da consciência da solidariedade. Só então a partir daí poderíamos reconsiderar a possibilidade dessa discussão. Covardes!Aos que defendem o discurso de que o brasileiro só reclama, que continue reclamando da boca miúda, mas é aí que estarão as idéias mais coerentes.
Por isso reclamemos, de tudo, se possível.
Porque pra reclamar é preciso ver que algo está errado, e muita coisa está errada! Reclamem de tudo!! e a todos.É necessário a reclamação, a crítica em relação ao modelo. Ótimo seria se todos desejassem um lugar melhor para todos, um mundo melhor. Ótimo seria se ao menos os que realizassem críticas ao modelo, vivessem concretamente o que dizem, doassem tudo que possuem aos pobres e se tornassem franciscanos. Piada.
A questão essencial é, deixando o ridículo de lado, que cada vez se faz mais necessário pensar um mundo novo, o brasileiro clama, a natureza clama, o mundo clama.

Não precisa ser santo pra poder reclamar. Até porque santos não existem, não mais.

E é preciso reclamar, e muito! Acorda povo Latino Americano do Brasil.

Ou é Educação e Tecnologia ou é continuar a ser pasto para o resto do mundo.

Brasileiro do mundo

Viver uma nação não é um papel muito fácil. É um sentimento que volta e meia paira sobre as rotineiras tarefas diárias. É estimulado, negligenciado, amputado, manipulado. Um sentimento que procuramos defender, claro, pois que, nasce da realização direta do viver, das nossas vontades, ilusões, projeções, e possibilidades. Estas que se materializam nos processos, funções, anseios, na inexistência destes, que se encontram, ou deveriam, e somente podem ser alcançados no território.
Mesmo que as possibilidades extraterritoriais possam ser consideradas, elas permeiam o território, e toda a sua territorialidade. Intervindo na construção, na modificação do próprio homem. As condições possíveis externas ao território pedem licença para se realizar, e só se realizam obedecendo as condições impostas pelo próprio território, caso contrário, não. Assim, somos brasileiros, aqui. Em qualquer lugar. Somos as extensões da nossa terra, títulos dos nossos campeonatos de futebol, olímpicos, da música e tudo o mais que já se está cansado de ouvir, de tanto que se repete esse discurso sobre nossa territorialidade. A beleza de nossa nacionalidade, o luxo da nossa miséria e o lixo da nossa competência política! Um tipo de imposição ao brasileiro, essa brasilidade.
Mas é importante isso, a Nacionalidade. Na contra-partida do discurso global, globalizador. A nacionalidade é muito importante. O capital das companhias nacionais necessita dessa nacionalidade. Mas isso é bom. Saber quem somos, e pra onde devemos ir. Sim! Somos o quê?! Latino Americanos, por mais que não pareça, ou esqueçamos, somos. Somos brasileiros, filhos de Ogum, afilhados do Papa, e de todas as igrejas cristãs. Nem tanto dos deuses indígenas que aqui houveram.
Mas esse discurso, vai deixando de colar. É preciso saber porquê precisamos nos sentir brasileiros - Porque compartilhamos um território, regido pelas mesmas leis, falamos as mesma lingua, conhecemos e sentimos os mesmos problemas.
E então, podemos nos ajudar. Devemos querer no fundo, porque se o simples fato da necessidade de acabar com a fome e a miséria não é o suficiente pra esse desejo, o futuro é que nossos filhos subam as favelas, e dividam a mesma rua que o moleque com cara de fome e nariz de cola, o mesmo espaço. A segurança futura, depende da felicidade geral, e, com certeza, da máxima justiça e igualdade social.


...Até o dia em que o homem olhar para outro homem e não conseguir enxergar os seus próprios olhos. Haverá guerra. – A humanidade é uma só, ou nos abraçamos, ou não lançamos vôo.

Ao poeta,

Bob Marley, Songs Of Freedom...
Obrigado por tentar nos mostrar o quanto podemos ser fortes quando estamos cantando a mesma canção, porque estamos juntos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ao templo do tempo,

Escrever é muitas vezes desafiar a verdade. É se agarrar aos elementos possíveis e fornecidos pelo seu tempo e expor outros, conclusivos.
Pois que seja lançado o desafio. Arrisco minhas fichas, caminhando no contra sentido da lógica. O que se pretende aqui é contrapor a lógica usual que permeia os meios de mídia de massa. Esse é o nosso papel, esse é o papel atribuído ao homem e à mulher dos dias atuais. O papel crítico de combate à homogeneização do pensamento, e de toda verdade que queira se impor através de sua reiterada e contínua divulgação.
Quando desejosos de defender princípios fundamentalmente humanos, tomando a vida como o que há de mais importante, podemos cometer equívocos, mas, que contudo, creio, que por tal natureza, podem ser perdoados.
E no mais, cabe ao tempo revelar por fim a verdade. Através do tempo revelam-se os elementos primeiramente camuflados nos fervores das paixões. Fatos anteriormente ocultados, conscientemente, ou não, se submetem à generosa e inexcusável elucidação imposta pelo tempo. Tanto quanto mais longa se fizer essa linha temporal, quanto maior for a presença do tempo, mais consciente será a apreciação do fato e dos processos em sua totalidade.
O tempo é o grande mistério, o verdadeiro sábio, um digno e honrado mestre.
Ao tempo, este que tem o poder de corroer o universo material, peço um pouco de misericórdia, então. Pois que qualquer erro que venha a ser cometido terá no seu fato gerador a ansiosa vontade da verdade, e em seu âmago, a confiança na força que reside no humano, na força da vida.

Por algum propósito;

Ao primeiro post de um blog normalmente é emprestada alguma responsabilidade. Assim que, resolvi não fugir da regra, e, após certa hesitação e meditação dicidi principiar esse espaço para debate e troca de informações acessorado pelas energias criativas do cosmos.
De tal forma que, apesar de não pertencer à nenhuma religião, mas me considerando inteiramente interligado à espiritualidade, recorro aos ensinamentos do Bhagavad-Gitã, e assim faço,


...ao amigo dos aflitos e à fonte de criação, à consciencia universal,
que é a soma de cada um de nós,
à força positiva que orienta as ações no universo,
ofereço minhas respeitosas reverências...
Que a cada um, desperte o amor, e algum propósito...