sábado, 22 de agosto de 2009

Poder reclamar – Dever!

Reclamar é perceber que algo não está correto.
Quando nossa percepção detecta algo que não está de acordo com nossa lógica, buscamos racionalizar esse processo, um meio importante de fazê-lo é através da verbalização, o que se configura a reclamação. Uma criança ainda no estágio de desenvolvimento de entendimento dos processos que o rodeiam, costuma verbalizar o processo, o mais simples que seja, antes de executá-lo.
Durante a evolução de nossas vidas vamos percebendo os processos mais complexos, e que tem implicações diretas sobre nossas vidas, muitas vezes de forma catastrófica. Daí então, é forçoso que podemos, devemos, reclamar.

Existe, não se sabe desde quando, um discurso que muito se repete a respeito de nossa tão adorada, afamada, e difamada, brasilidade, é o seguinte: o brasileiro reclama demais! e nada faz, “só reclama.” Ou mais ainda, que o brasileiro reclama, mas faz o mesmo, ou enfim, reclama da corrupção, mas é ele mesmo, talvez por natureza, um grande corrupto. A repetição reiterada desse pensamento por vezes ganha adeptos, inteligentes mas inexperientes, ou despreparados pensadores, que acabam se deixando guiar por essa lógica. E assim se busca deslegitimar, e porque não coibir, o direito, dever, que temos, de reclamar. Temos que reclamar!Existem duas idéias distintas e mescladas de forma contraditória nesse pensamento. Uma, a respeito da mensuração da disposição do brasileiro de reclamar. De onde vem essa medida? Sem entrar no mérito da questão da generalização, porque estaria invadindo o universo da discussão sobre o sentimento da brasilidade.
A segunda idéia, que o brasileiro não faça nada, ou pior, faça o mesmo do que reclama. É uma construção lógica covarde, porque pretende impor a mesma medida de duas situações completamente diferentes. Uma, histórica – de um país dirigido por uma burguesia surgida ainda no período colonial, de uma corrupção perpetuada desde então através da história, impuníveis. E outra, de um povo, que sobrevive sem os meios mínimos necessários de realização cultural, de cidadania e de informação. E daí o desvio de milhões, do dinheiro público, que não é de ninguém, e assim é de todo mundo, fica no mesmo nível do papel jogado no chão, do desrespeito ao sinal vermelho. Como se dar um tiro na testa de alguém fosse o mesmo que não cortar-lhe as unhas.
Se correta a afirmação de que o brasileiro nunca pratica a ação, merecer ser ponto de discussão, absolutamente. Devemos agir! O grande problema que me aparece então, é que se ele precisa agir, é porque está descontente com algo, logo, ele precisa, primeiramente, reclamar. Se ele reclama muito então, que ótimo seria, esse fato poderia representar um grande potencial de observação crítica, que poderia levar a insatisfação real e plena, e então, à ação. E cá entre nós, o brasileiro é de ação, quem tem olhos pra ver, é que veja, a sutileza da ação se encontra na majestade dos meios, não acessíveis às mentes oblíquas. Mas mesmo que não fizesse, argumentar que àquele que não faça nada, não é lícito reclamar é recorrer aos métodos da ditadura, argumento de ditador, que se não age concretamente, então, é coerente que se cale por completo. Mas não posso nem reclamar? Pensei eu, brasileiro. Ainda mais, os caminhos pra ação não são tão simples de ser exercidos. Ainda na memória coletiva paira o medo instalado pelas ditaduras de desafiar objetivamente o Estado.
Comitês, passeatas, discursos á praça pública? Levante a mão e cante alguma canção do Geraldo Vandré aquele que ainda acredita que esse tipo de ação têm efetivo resultado, sequer. A mídia não veicula se não tem violência, e se tem, ela expõe a violência. Fazer algo não é uma ação tão simples, como eu quero, eu mudo. O sistema é robusto, pesado e insensível – às greves de fome, ao homem que pôs fogo ao próprio corpo frente ao Congresso Nacional, às suas crianças na rua e à tudo mais. E mesmo assim, o brasileiro vive a miséria real, que é fabricada nos enredos da corrupção, e que justamente não permite o acesso à informação, da importância da consciência da solidariedade. Só então a partir daí poderíamos reconsiderar a possibilidade dessa discussão. Covardes!Aos que defendem o discurso de que o brasileiro só reclama, que continue reclamando da boca miúda, mas é aí que estarão as idéias mais coerentes.
Por isso reclamemos, de tudo, se possível.
Porque pra reclamar é preciso ver que algo está errado, e muita coisa está errada! Reclamem de tudo!! e a todos.É necessário a reclamação, a crítica em relação ao modelo. Ótimo seria se todos desejassem um lugar melhor para todos, um mundo melhor. Ótimo seria se ao menos os que realizassem críticas ao modelo, vivessem concretamente o que dizem, doassem tudo que possuem aos pobres e se tornassem franciscanos. Piada.
A questão essencial é, deixando o ridículo de lado, que cada vez se faz mais necessário pensar um mundo novo, o brasileiro clama, a natureza clama, o mundo clama.

Não precisa ser santo pra poder reclamar. Até porque santos não existem, não mais.

E é preciso reclamar, e muito! Acorda povo Latino Americano do Brasil.

Ou é Educação e Tecnologia ou é continuar a ser pasto para o resto do mundo.

Um comentário:

  1. Concordo contigo Greg.
    Quase sempre ouvimos ao reclamar do sistema político e de nossa realidade o chavão: "vc reclama mas não faz nada!". Poha, se eu to reclamando já não estou fazendo alguma coisa?!
    Após a ditadura não sobrou ninguém de "esquerda" pra disputar a opinião pública, foram quase todos assassinados. Então temos que reclamar mesmo, em todos os lugares, levar esse chamado da insatisfação.
    Temos q reverter essa cultura de ter medo de reclamar e reclamar pelos quatro cantos da cidade, ou país, ou do mundo.
    Quem sabe um dia quando existir muita gente reclamando poderá existir um espaço de uma ação coletiva eficaz!


    Parabéns pelo blog!
    Um Abraço e Sucesso!

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